terça-feira, 10 de maio de 2011

Eu supervalorizo muitas coisas, e, sobretudo as coisas estúpidas. Sempre sinto que meus erros são os mais imperdoáveis, meus medos são os mais bobos, minhas palavras são as mais vazias de significado, minha timidez extrapola os limites, minha paciência é insuficiente e minha felicidade é de plástico. Falo pouco, escrevo muito. Sinto muito por sentir além da conta.
Todas essas coisas vivem em constante guerra em mim, como se me penitenciassem da maneira mais perversa.
Tem algum jeito de pausar, assoprar a fita e reiniciar? Porque não tá funcionando direito essa vida.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sobre a felicidade e a clandestinidade

Deve existir algo como um timing ligado às leituras que faço. Tem hora que um livro não flui, por mais que eu insista nele e leia e releia e leiareleialeiareleia. Aconteceu isso umas três vezes com "O Sonho de Cipião", do Iain Pears, (um dos meus livros favoritos, diga-se de passagem) mas quando chegou a hora dele tudo fluiu lindamente e eu não consegui entender porque das outras vezes eu não consegui levar adiante. Guardo comigo uma frase do Rilke, que diz que a gente precisa juntar ternura na vida, pra então escrever bons versos, e que essa ternura só vem com o tempo... Expandindo o raciocínio para as leituras, foi preciso acumular ternura na vida pra que chegasse a hora delas.
Hoje cheguei a uma leitura linda por força dessa ternura acumulada. Fiquei com saudade de ler coisas da Ana, e encontrei uma entrevista dela em que cita Clarice Lispector, especificamente o conto "Felicidade clandestina" quando fala de uma de suas personagens, Feliciana, que é a junção de seu nome com esse ímpeto de ser feliz e ao mesmo tempo guardar dentro de si uma sensibilidade que quase a impedia de sorrir. Ela diz: (a felicidade) não é clandestina, é secreta, o que é bem diferente, porque a clandestinidade pressupõe a interdição e a rebeldia. E aqui no caso, o segredo não vem de uma proibição, mas de uma necessidade de preservar o mundo interior, preservar os sonhos, a fantasia, para mantê-la viva, até mesmo por um senso de ridículo. O problema da Feliciana é querer fazer parte do mundo, não o real, mas o grande mundo da poesia, dos livros, do mar, da partida, da liberdade, do sabiá que voa para onde o vento o leva, para onde quer. A grande aventura da palavra. Por isso fica apaixonada por Gonçalves Dias quando lê uma poesia dele escrita para ela, ao menos ela acha que foi escrita para ela, mas não se sabe. Aquilo representa a saída para seus sonhos. Ela não quer ser uma musa, quer ser a própria poesia, o próprio romantismo, o sentimento romântico, e em vez de ficar pregada na terra como a palmeira, voar como o sabiá.
Era mais que a hora de ler esse conto. Por algum tempo resisti a ele porque uma pessoa disse que se lembrou de mim enquanto o lia e eu não queria descobrir o que existia naquele conto que se remetia tão diretamente a mim, que me tornava óbvia assim; eu preferia o mistério que pairava no ar, eu que tenho predileção por esses sentimentos bobos e esses ideais romantizados que me congelam a pele... Eu agora era a menina que não tinha livros, tinha amantes. Fui reconhecida e me reconheci naquelas linhas inocentes da felicidade. Acidentalmente. Foi a felicidade mais secreta (e por quê não clandestina?) que senti.

Esse ciclo vicioso chamado tédio

vai me matar.